domingo, 12 de agosto de 2007

sexo com a cega no cinema

fiquei profundamente apaixonado por uma cega. seus olhos vazados eram de uma brancura descomunal, como se nuvens enublassem o céu de sua alma. gostava muito de olhá-la, principalmente porque ela não sabia que eu a olhava. fazia caretas e gestos obscenos, mas só quando estava de bom humor. a maior parte do tempo ficava vendo seus olhos brancos, incapazes de transmitir alegria ou tristeza.

às vezes passeávamos. eu a fazia bater nos postes, tropeçar nas calçadas e esbarrar nas pessoas, mas só quando estava de bom humor. a maior parte do tempo fingia que não a conhecia ou que a estava ajudando na travessia da rua. mas nossos passeios sempre tinham o mesmo fim. fazia sexo com a cega no cinema. não sei o que me seduzia, mas gostava de fazer sexo com a cega no cinema.

me ocorreu agora que eu fazia sexo com a cega no cinema porque as palavras combinavam; se ela fosse telepática, talvez eu a levasse ao teatro, para trepar com a telepática no teatro, ou se fosse coxa, eu a levasse à clínica, para comer a coxa na clínica; como ela era cega, então eu fazia sexo com a cega no cinema, mas só quando estava de bom humor. a maior parte do tempo eu brincava de cutucar seu corpo enquanto ela tentava agarrar meu dedo. às vezes não era o dedo.

outro dia ela me disse que prefere os filmes de terror.
acho que é por causa dos gritos.
pra mim tanto faz.





desde que me internaram aqui a cega nunca veio me ver.




essa semana me chamaram de traidora do movimento esse e aquele
como se fosse obrigação das pessoas seguir a risca as ideias das outras para que eles, juntos, possam formar um grupo
não tenham medo!!!
as coisas se ajeitam sozinhas, eu juro :)

quanto ao texto acima é uma das bolinhas de papel sobre as quais fiz tanto alarde um tempinho atrás
elas ainda não deixaram de me encantar


2 comentários:

Vica disse...

Muito legais essas bolinhas.

lilly disse...

O famoso sexo com a cega!
Mui bueno auhauh